doce solidão

O coração batendo forte, eu o sinto na costela, numa velocidade que não me deixa desacompanhar. Um emaranhado de fios que hora se resumem a uma dor mal elaborada, outrora a memórias de uma afetividade viscosa. Não sei se dá pra me entender.                                                  Você sugeriu que eu escrevesse hoje, pra ver se alivia o peito já que passei o tempo todo contigo sem pronunciar muitas palavras. Acho que você sentiu que não é falta do que dizer, é não saber como e se devo. Segui seu conselho. Mas ainda não sinto alívio, eu sinto câimbra e uma leve coceira nos pés. Tudo muito grosseiro, porque o que é subjetivo, sentimental, tem que diluir agora, pra deixar de ser viscoso e escorrer por algum buraco, sejam os olhos, o nariz ou a buceta. E então vou perdendo, dia após dia, um pouquinho mais de nós por aí, nas lágrimas fora de hora, nos gozos solitários, nos delírios dos orgasmos que só teus olhos me causam. E o que deveria inflar, crescer, vai murchando, perdendo forma, se esmilinguindo, e trazendo a sensação de uma solidão merecida, comprada a prazo, com juros, sem desculpa ou perdão.          E eu não estou reclamando, meu bem, tampouco deixei de te amar, mas é que quando deixamos o amor tão suscetível aos ventos dos descuidos, toda erva daninha pode ser motivo. E nós concordamos que seria assim, esse assim que nem sei explicar direito, mas que some com minhas palavras bonitas, que leva embora minha poesia, e acende meus capricórnios, deixando tudo meio duro, concreto, e certa de que estou só entrelaçada entre meus vincos, uma solidão incerta, maliciosa, cheia de um amor que não pode ser amor, uma doce solidão. 


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