Fumaça

Eu ando fumando demais, eu sei.
É que sigo esperando demais por suas respostas, sempre tão incompletas e enigmáticas.
Tenho deixado minhas rezas de lado e perdi chances de me banhar no mar. A cidade anda tão cheia de gente e eu numa solidão contundente. Ainda há muita confusão em todas as confissões que fizemos uma pra outra.  Eu não sei como não olhar pra trás, vou aprendendo na marra, me desamarrando, desatando os nós.
Venho pensando na morte, ela caminhou muito perto dessa vez e veio pelos trilhos de um trem em velocidade, na hora errada. Tudo por um fio.
Suas palavras continuam vazias e não consigo preencher com nada, acho que terei que me acostumar com sua ausência, dia após dia, deixando virar fumaça e se esvair noite a dentro. Mastigo minhas lágrimas e meus rancores, mas está quase impossível de engolir, desce rasgando tudo por dentro.
Sigo te desejando as coisas melhores da vida, bons papos, boas risadas, novas descobertas, quem sabe um novo amor. Desejo o mesmo pra mim também. Pra que a despedida seja mais leve e menos carrancuda do que tem sido até agora.
Pra que a maré baixe e possamos caminhar com a água nos tornozelos, pra que o sol seja brando e morno, que seja alimento e calmaria. Pra que, quem sabe, eu possa segurar sua mão uma última vez.

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